Texto: Luciana Coelho para a Folha de São Paulo

No dia 12 de dezembro, notei algo estranho na minha página do Facebook. Na “timeline”, encadeavam-se apenas publicações de amigos —crianças sorrindo, viagens aos montes, êxitos profissionais, pratos elaborados, textões politizados, a ladainha de sempre. Algo familiar sumira dali: as notícias.

Ou melhor, havia algumas, todas compartilhadas por amigos ou promovidas mediante pagamento pelos veículos que as publicam. Mas, quase sempre, com atraso. O mesmo ocorria com posts de organizações e figuras públicas de diferentes áreas que acompanho, seja por questões profissionais ou preferência pessoal.

Após rolar a tela do computador (e inacessível em celular com sistema iOS), encontrei um novo botão à esquerda, chamado “feed de páginas”. Precisava ser acionado para que eu ganhasse acesso às notícias e às publicações institucionais.

Perguntei a um porta-voz do Facebook se eu virara alvo do experimento em curso em Sri Lanka, Camboja, Bolívia, Guatemala, Sérvia e Eslováquia —o maior desses países tem 21 milhões de habitantes, 1/10 da população do Brasil— a pretexto de incentivar contato maior entre as pessoas.

Surpreendido, ele consultou a sede nos EUA e respondeu que não. O problema, alegaram, seria “falta de interação com páginas noticiosas”.

A resposta não cola. Jornalista, interajo com páginas assim intensamente. E a hipótese de tê-las extirpadas de meu habitat digital por critérios obscuros fez soar o alarme: o que me restará sob a redoma social?

Há dias a infindável sequência crianças-viagens-sucessos-comida-reclamações faz a bolha on-line assemelhar-se àquela rodinha em que correm os hamsters numa gaiola. Sempre igual, condenados a reviver o mesmo dia de novo e de novo e de novo com o mero propósito de continuar ali, parte de um experimento ou objeto das carências alheias.

Chegamos ao ano eleitoral. Se é ruim viver na bolha, imagine se ela se revelar, na verdade, uma gaiola.

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