Texto de Hollis Thomases

Eu tenho uma idéia maravilhosa, maluca, talvez delirante: eu quero meu próprio mundo de privacidade dos meus dados pessoais. Neste mundo, eu poderia controlar o que compartilho com os “vampiros de dados”. Você conhece esses vampiros: são sites, aplicativos para dispositivos móveis, redes sociais, páginas de busca, provedores de serviços de Internet, aplicativos de navegação e GPS, provedores de TV a cabo, fabricantes de dispositivos móveis, empresas de cartões de crédito, varejistas e, hoje em dia, praticamente qualquer empresa de quem eu compre algo online.

No meu mundo de fantasia, eu sou o único que escolhe quanto e que tipo de dados compartilho com os vampiros. No meu mundo, tenho a escolha de permitir um aplicativo móvel acessar minha identidade, mas não os meus contatos. No meu mundo, posso bloquear anúncios em sites, especialmente se eu me opor ao produto ou ao seu fabricante, ou se o anúncio na página da Web estiver retardando a navegação. Na minha fantasia, o Facebook não me obriga a aceitar, não apenas seus próprios cookies “nativos”, mas todos os outros (cookies de “terceiros”) ou que salve e use os meus dados, minhas preferências e todo meu comportamento online. No meu mundo, o Google não pode verificar o conteúdo das minhas mensagens de e-mail privadas, ou, rastrear todo o histórico de minhas pesquisas, afim de mostrar-me anúncios compatíveis . No meu mundo, minha localização é completamente desconhecida até eu decidir revelar isso.

Eu sei, você deve estar pensando: “Hollis, seu mundo parece bastante reacionário. Parece como se você estivesse no meio do deserto”. Ou, ainda mais comumente, o que eu ouço de outras pessoas quando falo sobre esse assunto é: “Por que você se importa?” Não tenho nada a esconder, então nenhuma dessas coisas de privacidade me incomoda.” Também não tenho nada a esconder, mas ainda me importo. Sim, às vezes eu sinto vontade de estar completamente fora do “meio de vida da tecnologia”, completamente livre dos vampiros de dados. Mas eu tenho uma motivação: se meus dados são tão valiosos para esses vampiros, por que eu estou – por que estamos – tão prontamente a dar-lhes de graça? É como tirar doces de um bebê. O mais impressionante ainda é que em muitos desses casos, os vampiros de dados ganham dinheiro conosco duas vezes: nós os pagamos diretamente pelo acesso aos seus serviços e depois eles vendem nossos dados – “Aiiiiiiiii!!”. Precisamos virar a mesa: se eles querem tanto os nossos dados, que eles nos paguem por isso!

Alguns de vocês podem argumentar que não temos escolha, que muitas das empresas que exploraram nossos dados o fazem porque eles nos dão em troca algo de graça: o Google e todas as suas muitas ferramentas gratuitas, por exemplo; Ou o Facebook com toda a sua conectividade social gratuita; Ou muitos e muitos aplicativos móveis que não nos cobram nada para baixá-los. A realidade, porém, é que sempre temos uma escolha. Você pode usar plataformas alternativas e menos invasivas, por exemplo: o mecanismo de busca DuckDuckGo em vez do Google, o navegador Firefox no modo Navegação Privada com o Tracking Protection habilitado e a rede social Minds. Você pode usar um bloqueador de anúncios quando navega na Web. Você pode desativar muitos mecanismos de rastreamento no seu telefone e aplicativos.

A maioria das pessoas simplesmente não faz essas escolhas. Somos criaturas do hábito e a mudança é difícil. Nós não queremos o inconveniente de ter que usar uma ferramenta ou plataforma diferente. Nós gostamos do que estamos usando e “todos os nossos amigos estão lá”. Em troca de conveniência, prontamente (e estranhamente) desistimos de algo que muitas pessoas trabalham duro para manter: o controle. Nossa apatia neste assunto permite que essas empresas on-line explorem o nosso valor real.

Quebrando o paradigma

De volta ao meu mundo de fantasia, quero quebrar o paradigma. Eu quero controle total sobre meus próprios dados, sobre o que eu vou permitir ser rastreado, e quero ganhar dinheiro com isso. Alguns dos meus dados eu simplesmente entregarei em troca de determinado acesso ou uso da tecnologia; Outros dados, quero uma compensação justa e equitativa.

Para que essa idéia funcione, meu mundo de fantasia não pode ser preenchido somente por mim – milhões de outros usuários da Internet estão aqui comigo. Pessoas que têm motivos diferentes, mas que também se beneficiarão do acordo. As pessoas devem ganhar dinheiro ao dar acesso aos vampiros de dados.

Eu imagino pais ajudando a financiar a faculdade de seus filhos, fazendo dinheiro com as atividades on-line dos mesmos (se eles permitirem, é claro). Imagino que as pessoas que tentam economizar possam fazê-lo com mais facilidade, sendo compensadas por suas atividades eletrônicas. Imagino que os empresários possam financiar suas novas idéias de negócios através do dinheiro que ganham ao realizar pesquisas e transações online. No meu mundo fantástico e louco, não são as grandes empresas tecnológicas sozinhas que ganham dinheiro. No meu mundo, nosso valor como indivíduo e consumidor não é apenas reconhecido e protegido, mas também monetizado.

Hollis Thomases é empresária e pioneira em marketing digital. Fundadora da ReinventionWorks, um “think-tank” e plataforma que ensina adaptabilidade.

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